sábado, 5 de novembro de 2011

Crítica do primeiro filme

 
            Sherlock Holmes, novo filme de Guy Ritchie, fez sua estréia nos cinemas brasileiros no dia 8 de janeiro, trazendo curiosidade ao público em geral e um misto de ansiedade e desconfiança ao público sherlockiano. Afinal, o que esperar de um filme que se propõe a ser um blockbuster recheado de ação, tornar-se uma série, agradar ao público jovem e exaltar as habilidades de luta do detetive? Ainda por cima, com um ator que em nada se parece com o Sherlock Holmes original? Bem, podemos elevar nossas expectativas!
            Apesar da diferença física e de uma certa pitada humorística a mais em seu personagem, Robert Downey Jr nos apresenta um Holmes carismático que mantém a essência do que sempre tornou o detetive tão interessante – a capacidade de observação apurada, as impressionantes deduções e seu raciocínio afiado. Está tudo lá: a depressão, na ausência de casos, a ansiedade, quando tinha um à altura, as experiências químicas, os disfarces, as desconcertantes arranhadas nas cordas do violino, enquanto meditava, a admiração por Irene Adler (Rachel McAdams), a rivalidade com Lestrade, entre outras características. Downey Jr faz uma grande atuação.
            Para os sherlockianos, que provavelmente serão os únicos a identificar, o filme traz referências diretas do Cânone. Algumas mais perceptíveis, como o "V.R." gravado à bala na parede do quarto, outras menos, como as clássicas poses de Holmes (inclinar-se para frente na cadeira, apoiar os cotovelos sobre os joelhos e unir as pontas dos dedos das mãos, quando está interessado num caso e sentar com as pernas dobradas enquanto fuma um cachimbo e reflete sobre o problema). Frases célebres do detetive, como "o jogo começou", "os menores detalhes são de maior importância" e "é um erro capital teorizar antes de ter todas as evidências", também estão presentes, dando aquela piscadinha especial apenas para os fãs.
            Watson, exceto pela demasiada liberdade criativa da mente que o visualizou dando um soco em Holmes (!), está bem próximo ao descrito nos livros, e continua sendo tanto uma ajuda inestimável e inseparável do detetive, quanto o contrapeso emotivo para o homem da razão. Jude Law, fisicamente parecido com a descrição de Doyle, assume o papel de forma segura, retratando a fase em que o doutor está para se casar com Mary Morstan. No entanto, um pouco diferente da maneira em que ocorre no Cânone, onde é Holmes quem apresenta a moça a Watson, e não o contrário.
            Na história do longa, Holmes se vê envolvido na busca pelo vilão Lorde Blackwood (Mark Strong) e na investigação para chegar a tempo de salvar as próximas vítimas. Ocultismo, seitas secretas e rituais de magia dão o tom ao filme e acrescentam mais suspense à trama. O enredo é bem amarrado e conta com as explicações didáticas de Holmes no final. Aqueles já acostumados à engenhosidade dos casos do Cânone não terão grande dificuldade em se antecipar a algumas das revelações, e o filme talvez não seja tão imprevisível, mas, ainda assim, a diversão está garantida. Professor Moriarty, sem ter o rosto revelado, dá o gancho para o próximo filme da série.
            O figurino da época e a cenografia estão impecáveis. Ser levado por entre as ruas da Londres Vitoriana pelas câmeras vertiginosas de Ritchie é uma experiência memorável. Melhor ainda ao som da trilha de Hans Zimmer, que está em perfeita harmonia com o intenso ritmo visual do diretor. O resultado é uma irreverente mistura de violino clássico, banjo e até rabeca cigana!
            A adaptação de Guy Ritchie presta uma homenagem decente à obra de Doyle, apesar das diferenças e liberdades. Moderniza-a e a adapta ao século XXI com respeito. Deve agradar tanto aos novatos no universo sherlockiano quanto aos fãs incondicionais.

Que venham os próximos!

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